Um divã em Belver



Hoje é segunda feira e ainda não me recompus da ressaca inerente a quem regressa à terra.
Fica aqui um desafio aos leitores deste blog... um mote para colmatar a minha falta de inspiração.

Arrisquem!

Comentários

sgs disse…
Estou a ver que a inspiração às segundas feiras não é o forte de ninguém. Que tal uma história a várias mãos? Eu posso começar:

D. Belarmina, cansada dos últimos dias, varria o chão quando as pernas lhe pediram urgente descanso. Levantou os olhos, enxugou a testa com a rodilha que levava no bolso do avental e proferiu o esconjuro: Alívio a quem o merecer, como um divã em Belver... O alívio tardou em chegar e o absurdo de tais palavras passou-lhe ao de leve pelo espírito. Ai mulher de pouca fé, disse com o sinal da cruz e um suspiro de desalento. Ora agora um divã em Belver... ele há coisas...
Estava neste distraído matutar quando...
montanhacima disse…
...de repente algo lhe chamou a atenção lá para as bandas do pontão. Seria magia ou arte do diabo? Que fumarada. Mais parece o pó do passar da bicharada ou será a burra do velho Venâncio a dar à luz? A bicha estava tão prenha que mais parecia um alcatruz. Será este divã lugar perfeito para uma burra anã... ai Jesus.

No seu tempo D. Belarmina lembrava-se de ir até à mina, acompanhada da burra, avó ou bisavó da que irá nascer, só quem sabe é filha do Belver vidente por acaso, pois previra que o sol depois de romper teria sempre um ocaso...
sgs disse…
...Ocaso, ocaso... o caso do Vi-dente, ai que graça que me faz. Cada vez que me lembro, era o dentista itinerante, que vinha com uma burrica nos dias de feira, arrancar os dentes aos que ainda os tinham, ladainhando a cada bocarra: vi dentes, vi bruxedos, grandes e pequenos, bravos e serenos, com buracos que não é pra menos...
Uma cantilena que não apagava os urros dos pobres desbocados que lhe abriam a goela. Os incautos!
Ai esta cabeça, 'inda agora andava a matutar no divã e já lá vai a meada adiantada e a memória desfraldada nas feiras do vidente.
Olhou ao fundo o pontão e pareceu-lhe que o fumo tinha esmorecido. Talvez a burra já tenha parido, pensou. Burra parida, mudança de vida, fumo a correr, olhos de belver... Ai um divã...
Caminhou para desentorpecer as pernas, aproximou-se da poltrona envelhecida que costumava estar à beira da água e encostou-se um bocadinho.
E se eu...
Anónimo disse…
...levasse o divã comigo... Um pouco maltratado está ele, de há tanto que aqui está, já leva umas coberturas brancas que nem coisa de gaivota, bicho imbirrento que aqui por terras de Belver bem ver nem é costume. Se calhar veio lá das finisterras. E fede ainda a fumo, o raio do bicho. Deixa cá ver. Ugghh. Arre que o raça do divã é mais pesado que a mãe da burra do Venâncio. Agora dava jeito aqui era uma junta de bois para levarem este bicho às costas. Ainda me vêem, e aqui em Belver todos têm boa vista.
Ora que realmente... "divã", que raio de palavra tão não-me-toques-que-me-quebras, com toques de rico finório lá de Lisboa. "Divã", até dá vontade de dizer "divã" com a cabecita inclinada e a boca com ares de enjôo. Aaahh, quais divã (dizia D. Belarmina, exagerando o gesto), quais carapuça. Já não quero nenhuma cadeira finória com caca de gaivota.

Eu vou mas é...
Anónimo disse…
para casa...pois tenho o almocinho para fazer...O Manel chega hoje dos Açores e eu quero fazer-lhe uma surpreza. E lá foi D. Belarmina, ainda meia inquieta de não aproveitar aquele divã, muito famoso, diga-se de passagem. Ainda voltou uns passos a trás...mas depois lá veio a razão ter com ela e lhe disse: onde é que vais pôr essa coisa velha no teu cantinho minusculo?...Mas o coração não a deixava decidir: o divã é tão confortavel...e não é tão velho assim...

Ai...se calhar o Manel até vai gostar de o ver...
Anónimo disse…
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse…
nem que seja no quintal junto ao galinheiro. Assim, como assim, caca de gaivota ou caca de galinha não serão muito diferentes... só uma questão da dieta dos bichos, uma de peixe, outra de milho transgénico, mas ambas passando po papos e triturados por moelas. E se melhor o pensou, melhor o fez. D. Berlarmina apelou ao último sopro de força que ainda tinha e apesar do cansaço começou a arrastar o divã para casa. Passado pouco mais de 10 metros, tirou o pano que tinha no bolso do avental para limpar suores e limpos estes, limpou também os excessos de caca de gaivota e sentou-se a descansar. Confortável este divã... O diacho é que é muito pesado. Encontrava-se ela neste momento de relax congeminando dúvidas sobre se a canseira valeria a pena e ainda sem ter tido qualquer notícia sobre o eventual parto da burra, quando...
Anónimo disse…
aparece o psiquiatra Anastácio, muito preocupado pelo atraso involuntário na hora da consulta. Agradecido pela existência de cliente, coisa rara, interpela D. Belarmina. Está a mudar o divã, porque a vista não lhe agrada? Eu necessito consultar os meus doentes virados para o rio, para que as suas mentes sejam lavadas e expurgadas de taras, manias, depressões, esgotamentos, devaneios e problemas afins. O divã está aqui e só aqui poderá ficar. Prontos!

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