Um divã em Belver
Hoje é segunda feira e ainda não me recompus da ressaca inerente a quem regressa à terra.
Fica aqui um desafio aos leitores deste blog... um mote para colmatar a minha falta de inspiração.
Arrisquem!
Blog altamente influenciado pela falta de oxigénio, própria das terras altas...
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D. Belarmina, cansada dos últimos dias, varria o chão quando as pernas lhe pediram urgente descanso. Levantou os olhos, enxugou a testa com a rodilha que levava no bolso do avental e proferiu o esconjuro: Alívio a quem o merecer, como um divã em Belver... O alívio tardou em chegar e o absurdo de tais palavras passou-lhe ao de leve pelo espírito. Ai mulher de pouca fé, disse com o sinal da cruz e um suspiro de desalento. Ora agora um divã em Belver... ele há coisas...
Estava neste distraído matutar quando...
No seu tempo D. Belarmina lembrava-se de ir até à mina, acompanhada da burra, avó ou bisavó da que irá nascer, só quem sabe é filha do Belver vidente por acaso, pois previra que o sol depois de romper teria sempre um ocaso...
Uma cantilena que não apagava os urros dos pobres desbocados que lhe abriam a goela. Os incautos!
Ai esta cabeça, 'inda agora andava a matutar no divã e já lá vai a meada adiantada e a memória desfraldada nas feiras do vidente.
Olhou ao fundo o pontão e pareceu-lhe que o fumo tinha esmorecido. Talvez a burra já tenha parido, pensou. Burra parida, mudança de vida, fumo a correr, olhos de belver... Ai um divã...
Caminhou para desentorpecer as pernas, aproximou-se da poltrona envelhecida que costumava estar à beira da água e encostou-se um bocadinho.
E se eu...
Ora que realmente... "divã", que raio de palavra tão não-me-toques-que-me-quebras, com toques de rico finório lá de Lisboa. "Divã", até dá vontade de dizer "divã" com a cabecita inclinada e a boca com ares de enjôo. Aaahh, quais divã (dizia D. Belarmina, exagerando o gesto), quais carapuça. Já não quero nenhuma cadeira finória com caca de gaivota.
Eu vou mas é...
Ai...se calhar o Manel até vai gostar de o ver...