o chá das furnas



Foi num dia cinzento tipicamente açoreano, aliás muito bom na perspectiva de quem lá vive há pelo menos um ano. Saímos de casa sem rumo e inevitavelmente acabámos na direcção da famosa aldeia das Furnas, aquela onde se faz um cozido com o calor que emana das entranhas da terra. Seria talvez a vigésima quinta vez que mostrávamos as furnas a algum visitante continental.

Lá na terra das fumarolas onde o diabo faz a festa com banhos de enxofre existe uma casinha, muito simpática chamada: “o chalet da tia mercês”. É aí que, numa fonte cravada na parede bem ao lado da porta do “chalet”, brota uma água quente e com um aspecto acastanhado: a fonte do padre qualquer coisa (não me lembro do nome).

Chegados e arrumados nas cadeiras de palhinha pedem-se os chás e é aí que a senhora simpática de faces rosadinhas e curvas acentuadas, com um sotaque bem micaelense nos pergunta:
- Senhô, qué u chá cum água du pâdre ou cum água da turneiiira?”
- Com água do padre, por favor.

E aqui fica o testemunho. Aquilo que se vê dentro da chávena não é café nem sequer um qualquer chá preto inglês. É chá gorreana (o mais famoso dos açores) feito em água da fonte do tal padre que, devido às suas características ferrosas o torna numa bebida de cor arroxeada e sabor indescritível. Não digo se bom se mau pois a ideia é mesmo aguçar-vos a curiosidade.

Se lá forem experimentem!

Só a título de curiosidade: os Açores são a única região na Europa onde se faz cultivo de chá e 100% biológico, pois devido ao clima não há diferença entre a estação seca e húmida e portanto não existem pragas a combater, não sendo necessários quaisquer químicos.

Comentários

sgs disse…
O mar enrola n'areia, ninguém sabe o qu'ele diz, bate n'areia e desmaia, porque se sente feliz...

Além da senhora simpática da casa de chá, uma outra senhora, velhinha adorável cheia de contentamento e excitação em primeira visita às terras do demo e dos mistérios, não precisou do chá para abrir a alma à cantoria. E assim, num tributo às américas (afinal bem mais perto das ilhas que Lisboa), de coca-cola em punho (sim, que a globalização já chegou a todo o lado e sendo estas terras do demo a cheirar a enxofre, enfim já seria de esperar) a avó Adélia lá deu largas ao encantamento.
Ai filhos, isto é mesmo um mistério... confidenciou entre a cantoria e o espanto.
A ela e a nós, privilegiados por testemunhar tantos milagres, aqui fica este tributo.
beijos doces e saudosos (com um fuminho de nostalgia ao fundo)
Anónimo disse…
Afinal ainda há quem leia aquilo que por aqui se escreve.

Agradecimentos e cumprimentos

daniel
Zé Maria disse…
Só é pena já não teres lá onde nos pores a dormir, senão não terias muito que esperar pela minha visita. Chá com ferro deve ser bom para a saúde, mesmo que não saiba muito bem.
Um abraço.
ZM
Anónimo disse…
isso serão saudades????
há 1 ano e 7 meses (julgo eu!!!), fora da ilha mas com o pensamento cá!!!
sempre que quiserem a porta está aberta, e já temos um colchão para as visitas!
beijitos. sílvia e rui

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